7.8.06

Semana Mundial da Amamentação

Semana passada foi dureza. Quando vinha a inspiração, a conexão ia embora. Eu até que pensei em várias "cousas", das quais gostaria muito de falar aqui. Mas eu sempre me extraviava no caminho entre o resto da casa e o escritório. E olha que nem é tão longe assim.

Numa trégua entre a minha vontade de postar e a má vontade do servidor, li no blog da Renata, que desde o dia 1º tem se comemorado em mais de 120 países a Semana Mundial da Amamentação. E numa iniciativa muito bacana de uma moça chamada Denise, aconteceu uma blogagem coletiva, onde parte da blogosfera se mobilizou a postar sobre o tema. Sendo assim, eu quero muito, nesse último dia de campanha, dar o meu depoimento. Senta que lá vem a história.

Sempre sonhei em ser mãe e, assim sendo, sempre imaginei a amamentação parte integrante do ato se der mãe. Ao engravidar, entre as várias mudanças pelas quais passam nosso corpo e nossa mente, comecei a me preparar para o aleitamento: banho de sol, esfoliação, entre "n" outras coisas ditadas pelas comadres e agregadas. Como acontece com 99,9% das mães de primeira viagem, temia que meu seio enpedrasse, rachasse, inflamasse e todos os outros "asses" que me diziam serem possíveis de acontecer.
Escolhi uma maternidade que sustentava o lema do "aleitamento materno em primeiro lugar". Visitei o local, gostei das instalações e, principalmente, em saber que ela contava com uma equipe de doulas que auxiliam as mãe na hora P.
Por uma decisão conjunta entre eu, meu marido e nosso obstetra, nosso bebê não chegou ao mundo através da forma natural, como eu desejava. Mesmo assim, melhor parto seria impossível. Ele nasceu muito bem, lindo, fortão e anunciou isso a plenos pulmões, ainda dentro do útero.
Porém, minha decepção com a referida instituição começou ainda na sala de cirurgia. Não colocaram meu bebê para mamar em meu seio assim que fui liberada da cirurgia, como haviam me garantido que fariam. Embora ele tenha seguido para o quarto nos meus braços, nenhuma enfermeira nos acompanhou para que pudessemos alimentá-lo e quando perguntadas quanto a isso, se limitaram a dizer que o bebê nascia com um, digamos, suplemento alimentar que o manteria saciado por até 12 horas. Teimosa como sou, pedi ao meu marido que o colocasse em meu colo, porém não consegui fazê-lo mamar. Ele chorava muito e não conseguia pegar o peito, logo adormeceu.
No outro dia, as coisas pioraram. De tempos em tempos, aparecia uma enfermeira - nunca a mesma - que pegava meu filho, colocava-o no meu peito e ficava segurando sua cabecinha de encontro ao meu seio enquanto ele chorava e se remexia desesperadamente. Diziam que eu não tinha leite e espremiam meus peitos com a sensibilidade de quem ordenha uma vaca. Depois de várias tentativas frustradas, meus seios estavam doloridíssimos e o bebê chorava de fome. E o pior, ninguém fazia nada, a não ser me espremer e dizer que eu não tinha leite, claro. Tive que implorar para que alguém preparasse um complemento alimentar para meu filho, o que foi feito muito a contragosto das irmãs (a maternidade é regida por irmãs de caridade), que a essa altura já haviam dado todas as provas de inflexibilidade possíveis.
A essas alturas, eu era um misto de felicidade extrema, medo e insegurança. Meu filho acabava de vir ao mundo e já havia ficado quase 15 horas sem comer. Que espécie de mãe eu seria assim?
Com a graça de Deus, no dia de minha alta ele pegou o peito. Tímido e assustado, conseguiu sugar um pouquinho do colostro. Assim, teve alta comigo. Mas em casa, não conseguiu mamar novamente e tivemos que voltar à maternidade. Novo choque: a irmã não queria que dessemos o complemento à ele. Não percebia que o bebê não havia ainda aprendido a mamar e que precisaríamos de mais algum tempo até que ele aprendesse e que, enquanto isso, não poderia ficar com fome. Foi uma briga daquelas entre o pediatra e ela.
Voltamos para casa e a primeira semana com meu filho foi a mais maravilhosa, mas também a mais difícil de toda a minha vida. Para ensiná-lo a mamar, sem deixar de alimentá-lo, eu o colocava no peito, deixava que ele brigasse bastante, se esforçasse e sugasse pelos menos um pouquinho. Depois dava pequenas quantidades de Nan no copinho. Até no bico de silicone nós demos, para que ele treinasse a sucção. Apesar de ter nascido de 40 semanas e com 3,650 de peso, ele se comportava tal qual um recém-nascido, pois dormia só de ver o peito.
Com 13 dias, ele estava abaixo do peso com o qual havia deixado a maternidade. Minha auto-estima já estava por um fio, haviamos passado por dois pediatras que só pioraram a minha situação, meu leite pingava e meu bebê não mamava. Juro que cheguei a pensar em desistir do peito e, se não o fiz, foi por força e apoio de meu marido. Temia que meu filho perdesse ainda mais peso e adoecesse por minha culpa. Foi assim, quando eu era um trapo humano que só sabia chorar, que encontramos o pediatra atual do Pipe. Com sua orientação, chegamos ao Projeto Casulo, que consiste numa equipe que dá apoio às mães que amamentam. Lá, constataram que eu tinha muito leite, que eu já havia conseguido ensinar meu filho a mamar (a pega estava perfeita, a posição e tal), mas que ele era muito, mas muito preguiçoso mesmo e isso o estava impedindo de mamar. Me ensinaram várias técnicas para mantê-lo acordado no peito e insistiram para que eu o amamentasse com o intervalo máximo de duas horas para que ele recuperasse o peso. Visitávamos o projeto de dois em dois dias para pesá-lo e acompanhar seu desenvolvimento. Ao final de duas semanas após nossa primeira visita ao Casulo, meu filho já havia atingido o ganho diário de 40 gramas por dia (a média é de 20) e mamava como um bezerrinho. Me lembro que um dos dias mais felizes de minha vida foi quando o pesamos e vimos que ele havia engordado 200 gramas. Como vibramos com a sua conquista!!!
Depois disso, as coisas fluíram maravilhosamente bem e hoje ele caminha para os seus nove meses. Provavelmente, já passou dos dez quilos e dos setenta e cinco centímetros. Enfim, está um garotão.

Hoje, consigo traduzir com mais clareza que aquele desejo que eu tinha de amamentar se tornou uma necessidade quando o Felipe nasceu. Não devido à convenções ou ao orgulho próprio: eu devia isso a ele. Através do meu leite, era como se minha força vital e minha energia fossem preenchendo aquele corpinho, dando força a cada uma de suas celulas, recheando cada uma daquelas dobrinhas lindas. É bonito você ver seu filho crescendo e saber que, até então, ele só se alimentou de você. Acredito que amamentar é, antes de tudo, um ato de amor. Pelo tempo que seja, você se doa ao seu filho e essa doação é assimilida por eles de uma forma muito positiva. Sendo assim, acho que todo esforço é válido. Ontem, hoje e sempre. Infelizmente, hoje meu leite não "anda tão bem das pernas". Após tomar vários tipos de chás que prometem ajudar na produção de leite e devorar muitos comprimidos de Plasil da vida, resolvi deixar a natureza agir. Sigo oferecendo o peito e ele segue aceitando, mesmo com a introdução de outro tipo de leite e dos demais alimentos. Se o meu leite em si não tem sido suficiente para saciar sua fome, fica o carinho, o aconchego, o calorzinho daqueles momentos que são só nossos. Ali, quando ele está em meus braços, acalentado, todas as belezas do mundo parecem ficar no doce murmúrio dos seus lábios no meu seio, na sua mãozinha quente a me tatear. É nessas horas em que eu recarrego todas as minhas forças. Até parece que ele é que está me alimentando, tamanho é o amor que sinto em seus olhinhos. Posted by Picasa

5 Comments:

Blogger Ana said...

Que lindo, Elis...

Eu falei, no meu post, que o melhor que podemos fazer, é ficar a sós com nosso filhote e deixar a natureza agir. Claro que pra isso é preciso ter a calma suficiente pra o aprendizado e pra enfrentar as primeiras dificuldades.

Ainda bem que encontraste pessoas preparadas, já num momento em que estavas quase desistindo.

Se desde o primeiro momento não tivesse tido a interferência de quem só fez atrapalhar, tudo teria sido mais fácil e mais rápido.

Parabéns por ter persistido e procurado ajuda!

4:22 PM  
Anonymous Anonymous said...

Querida,

mil beijos e obrigada por ter alimentado meu sobrinho tão amado.

4:42 PM  
Blogger renata penna said...

Elis, querida, ainda não deu tempo de ler o seu post, vim só pra te dar as tão prometidas dicas. Olha, se vc quer continuar amamentando, a primeira coisa a fazer é cuidar de você: descansar e dormir sempre que for possível e comer bem. Não se preocupar com emagrecimento, peso, nada disso, agora. Não é o melhor momento. O seu corpo está tendo uma demanda altíssima de energia para a produção de leite para o Felipe, e é preciso dar o que ele precisa para trabalhar bem. Outra coisa é beber muita água. Mas qdo digo muita, é MUITA mesmo. Litros e litros por dia. A água é a matéria prima da qual o seu corpo produz o leite. Então, pra produzir muito leite, o organismo precisa da água que vc necessita e mais a água para produzir leite. Isso é muita, muita água. Outra coisa é a amamentação livre demanda: o estabelecimento de horários rígidos para o bb mamar prejudica a produção de leite. Coloque o Pipe para sugar, o tempo todo, mesmo que ele fique pouco tempo de cada vez. O ato da sucção vai estimular cada vez mais a produção do leite. Vc pode estabelecer rotina em outras atividades da vida dele, e manter a livre demanda assim mesmo: livre. Mais uma dica: compressas quentes (não muito) ajudam bastante. Antes de colocar o Felipe pra mamar, aqueça fraldas, pode ser com ferro de passar mesmo, e coloque no seio. Estimula muito a produção. Por fim, se vc estiver dando mamadeira, o ideal seria suspender, pelo menos nesse momento de tentativa de aumentar a produção de leite. Sugando a mamadeira, o bb pode ter a famosa confusão de bicos e sugar menos no seio. E vc precisa, nesse momento, que ele sugue muito, o máximo possível. Então o ideal seria, se vc dá líquidos a ele na mamadeira, tentar dar de outra forma, em colherzinha, copinho ou copo com válvula de treinamento. Ah, e se vc quiser, tem um grupo de amigas que tem um grupo de apoio a mulheres que desejam amamentar, não é nada formal, é um apoio de mãe pra mãe e elas têm muita informação sobre aleitamento, têm respostas para muitas dificuldades. As reuniões são aqui em Sampa sempre às sextas, não sei se vc tem condições de vir. Espero ter ajudado, querida. Qualquer coisa continuo aqui pro q vc precisar. Depois volto pra ler o post. Beijão.

5:23 PM  
Anonymous Anonymous said...

Ou Elis, que história tão linda! Vc me emocionou,sua luta não foi em vão. Não é atoa que vc se auto denomina "GentedoBem /BemAmada"
Que Deus os abençoem sempre!
Beijos

7:41 PM  
Blogger Leka Uwarow said...

Oi Elis,
vim retribuir a visita e me encantar com sua história, que linda...
Só podia ser são-paulina não é?
Boa semana, beijos Ale.

8:28 AM  

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